murcha devagar, devagarinho,...
suspira profundamente
olhei para ti naquela tarde pensando que me ias pregar a partida de morreres mesmo na minha frente...
Mas nao! Ate nisso foste impecavel comigo.
Devagar, devagarinho ias respirando
deitada naquele quarto com aquele cheiro
via.se e ouvia.se que respiravas com dificuldade ja avisando do teu futuro.
Eu nao queria ver mas ouvi era obvio demais para eu fugir.
Devagar...
xiu...
Baixinho...
hesitante estava eu... ansiosa sempre que viesse outro suspiro.
e vinha... sempre vinha na minha frente... ficando eu cada vez mais angustiada com o espectaculo.
Para mim morreste a minha frente.
Sonho de dia, sonho de noite contigo.
Nao sao sonhos, sao antes doces pesadelos, lembrando uma infancia feliz bem disfarcada e uma injusta e triste pre.adulescencia.
e suspiraste...
cada vez mais baixinho...
Sonho acordada com aquele cheiro de flores enjoativo que estava naquele igreja naquele dia que infelizmente foi o teu. Sonho com as ultimas horas de vida que passaste ao meu lado a falar de coisas inexistentes, estavas numa especie de alucinacao pra mim nao surpreendente pois ja tinha visto a cena anteriormente.
E eu la estava...
Forte e dura...
Segurava.te a cabeca com as maos.
e tu falavas de vagar para nao te cansares. a ti custava.te.
e eu dizia que sim a tudo.
doia.m a garganta de prender o choro.
suspiravas...
e eu nao aguentei tanta lagrima e disse que gostava muito de ti.
Nao queria que soubesses tao afrontadamente que a morte estava confirmadamente proxima. Viste que eu tinha os olhos prestes a rebentar. Como estao agora mesmo.
E foste tao surpreendentemente forte. Foste sim senhor.
Sorris.te e disseste que tambem gostavas muito de mim. sorriste de novo e pediste.m um bjinho! eu dei.to na testa com todo o meu respeito e carinho que bem merecias.
E ainda mais forte foste quando pra me animar te ris.te e disseste que no dia seguinte te voltavas escondida na mala a mae! quando ela te fosse visitar!
E eu tambem me ri e a mae entrou no quarto e lhe disseste anda ca tu tambem dar.me um bjinho! E a mae tambem chorou e tambem te bjou e ficamos ali as tres a conversar ate os bombeiros te tirarem dos meus bracos e te levarem para o hospital.
Ja sabia que nao ias voltar.
E nao voltaste.
Espero que as minhas orquideas brancas cheirem bem aos teus pes dentro do caixao.
Odiei profundamente a frase de cima mas nao a vou apagar.
Vou dize.lo de novo...
"Avo... eu gosto muito de ti..."
E tenho sonhos e pesadelos docinhos como as nuvens todos os dias contigo.
Como disse a mae o que te mantem viva perto de nos sao as recordacoes boas que nos deixaste!
*
Oh, porra este post custou.m mesmo a escrever!
