Lembro-me de olhar a porta de casa onde tantas outras vezes quis virar as costas e nao entrar desta vez nao foi excepcao mas.. Havias algo que me prendia e obrigava a entrar para saber a verdade que naquele instante pudia mudar a minha vida ou nao.. Pois porque eu neste momentos quases certos de terror pelos vistos guardo sempre umas tolas chamas muito pequeninas de esperanca! Que estupidez a minha.. Mas la estava a porta como ha 15anos atras pronta para me receber.. Toquei a campainha abri o portao subri muito devagar os tres degrau que na realidade eu nao queria subir.. Havia luz na janela.. Ha sempre quando e de noite.. A mae abriu a porta olhei nos olhos dela e depois desviei a cara nao queria saber nao queriaaa.. A carrinha que me trouxe partiu com um adeus nao sei se de preocupacao se de indiferenca.. Soube que naquele momento ia saber afinal como seria a minha vida daqui para a frente, olhei de novo pra ela, vi aquele brilhozinho triste, que assentiu com a cabeca para a minha duvida.. Pronto.. tinha dado o seu ultimo suspiro.. Entrei sem lhe ter dirigido uma unica palavra nem ela a mim.. Encontrei o meu patinho em casa para minha grande surpresa pois tinha acabado de o deixar na estacao do comboio. Ele soube primeiro que eu.. Eu que queria ter sido a segunda a saber.. Perguntei entao a mae se a Guga sabia e ela disse que sim.. A minha princesinha loira de olhito azul tambem ja sabia.. "Onde esta o avo?" "Esta la em cima no quarto, estavamos a escolher a roupa que ela vai usar quando for enterrada." Subi a escada a correr, os degraus dois a dois, eles foram atras de mim como se numa duvida de que eu fosse fazer algo perigoso para mim, como se nao aceitasse a verdade.. Corri para o quarto deles que agora se tornava dele.. Ele tava de cabeca baixa a arrumar uma camisa dela que estava em cima da cama, olhei e vi a roupa, depois ele viu que eu estava ali, corri para ele e dei-lhe um abraco enorme daqueles que sao do tamanho do Mundo, comecei a chorar, nem sei como me tinha controlado ate ali, mas foi com ele que comecei a chorar, nunca o tinha feito com tanta forca.. Ele ficou um pouco sem saber o que fazer e comecou a soltar frases para me acalmar.. "A vida e mesmo assim.." "Toda a gente morre um dia.." Depois soltou-se do meu abraco e disse: "O avo ja viu o pai morrer, o irmao morrer, a mae morrer, o sobrinho morrer, agora viu a avo..pronto.." A mae deu-me um papel onde estava escrito o dia e a hora do velorio e do enterro. Disse para eu ligar a Barbara e dizer-lhe. Poxa tinha acabado de encarar a realidade e ja tinha de seguir em frente a vida.. Nao tendo eu outra escolha.. O pato andava atras de mim como uma barata.. Marquei o numero, foi logo ela que atendeu. Assim que ouviu a minha voz percebi que sabia o que tinha acontecido, como eu o tinha estado a dizer que ia acontecer a tarde toda.
Depois de me ter identificado comecei a dizer as horas e os dias e isso tudo achei que nao precisava explicar mais nada.. A voz comecou a pesar-me tanto.. tanto tanto.. comecei a chorar outra vez.. e ela viu que eu tava a chorar e disse.. "Ana.." mas eu nao parei continuei a falar a ler o irritante papel que me tinham pespegado na mao sem mais nem menos.. e eu lia.. Lia era o nome dela que nome tao bonito.. Tao invulgar e simples ao mesmo tempo.. Vou por esse nome defenitivamente se tiver uma filha.. Lia.. estava na ultima linha do papel.. a voz tava a falhar quando um soluco de choro se transformou num grito de revoltaaaaaaaaaaaaaa! Eu nao queria gritar nao sei de onde o grito saiu nem parecia a minha voz.. eu queria calar-me mas nao consegui nao era eu que controlava a minha voz! O pato agarrou pelos bracos, puxou-me, a mae arrancou-me o telefone da mao a olhar-me com um desprezo como se eu fosse uma menina mimada a fazer uma fita, agarrei me ao pato e chorei.. A mae pediu desculpas a Barbara.. e quando desligou comecou a gritar comigo.. Como se eu nao tivesse suficientemente mal.. Como se eu tivesse feito tudo por maldade, como se a culpa tivesse sido minha de ela estar morta! Nao era.. Nao e.. Eu sei que nao!