Já se passaram dois a três Natais sem que eu te desse notícias minhas e agradecesse os teus sempre amigos desejos de Bom Natal. Peço-te desculpa por esta minha falta de cortesia, mas a minha vida, nestes últimos cinco a seis ano, em termos de saúde da minha mulher foi bastante complicada e dolorosa. Foi-lhe diagnosticado um linfoma, que é um cancro no sistema linfático. Foi operada e retiraram-lhe todo o baço. Ainda conseguiu resistir uns dois ou três anos, sempre com grande sofrimento, mas em Fevereiro de 2005 acabou por falecer. Como deves calcular a minha vida após 54 anos de casado foi brutalmente abalada. Agora, já um velho de oitenta e dois anos, encontro-me a viver com a minha filha e netas. Cá me vou mexendo com muitas dores nas articulações dos joelhos, com uma artrose mais avançada no joelho direito e o resto das dores próprias de quem já ultrapassou a barreira dos oitenta e dois anos. Mas a vida é assim e não há que reclamar. O tempo em que andava a correr atrás da bola oval já passou e não tem mais regresso, é a lei inexorável da vida. Igualmente, como tu, em jovem nunca sonhei que pudesse ultrapassar a barreira do ano 2000 e, no entanto, aqui estamos em 2007, assistindo de camarote aos desmandos, políticos, sociais, ambientais, éticos e humanos, com que somos confrontados todos os dias. Não há dúvida de que a Humanidade evoluiu tecnologicamente, mas em valores morais, continuamos na Idade Média e nalguns casos na Idade da Pedra. Esperemos que melhores dias virão para as novas gerações e que o Homem se possa entender com o seu semelhante, olhos nos olhos e de peito aberto. Desejo-te que 2007 seja um ano muito feliz para ti e para todos os teus mais queridos e que se cumpram todos os teus desejos.